domingo, 2 de março de 2008

O SAMBA DE COCO RAIZ DE TUPANATINGA E A INJUSTIÇA DO ACASO.


O surgimento do coco em nossa região deu-se ainda, quando na formação da nossa Cidade, quando esta era uma pequena vila pertencente ao município de Buíque. Onde as casas eram pequenos casebres feitas de madeira e barro. As famosas casas de taipa (primeiras décadas do ano de 1900). Segundo Mariquinha, 54 anos e sambista do grupo, Júlio de Ocrísio, foi o primeiro a formar o grupo. E tudo começou quando nas construções desses casebres, ele convidava a comunidade para tapar a casa e sambar um coco para aprontar o piso e a festa seria por conta do proprietário.
Os instrumentos utilizados era o ganzá e o pandeiro. O puxador do samba com o ganzá coordenava a roda, e o tocador com o pandeiro animava a festa. Os dançarinos começavam em círculos e cada qual com o seu par. O samba não tinha hora para acabar. Segundo Severino Carqueijo, mestre do ganzá, mesmo quando o sol apontava, puxava-se ainda um outro samba se despedindo do sol. E quando tudo estava claro, o dono da casa satisfeito, verificava ainda se o piso estava pronto.
O grupo manteve-se coeso durante muito tempo na sua primeira formação, coordenado pelo Mestre Júlio de Ocrísio, e os demais como Manoel de Ocrísio, seu Gesso, Zé Preto, João de Maçu, Vicente Preto, Vicente Carqueijo e Gerson França, e as mulheres: Josefa de Manoel Pedreiro e sua filha Luzinete de Manoel Pedreiro, Cícero de Brasi e Vicência Maria de Joana e muitos outros que a história não registrou.

Dos fundadores, Gerson França é o único que conta a história e segundo ele, o coco foi uma das maiores alegrias tanto para ele como para o grupo. Lamenta muito o descaso para com as culturas antigas, ocasionando bem assim, o enfraquecimento das raízes da nossa história, dos valores do nosso povo.
Conta seu Gerson que por conta da ignorância e da prepotência dos tempos modernos " a beleza das coisas perderam a a sua arte". Acredita outrossim, nessa juventude que pode fazer algo de novo pelo velho... (que tudo não seja fogo de palha"). Todavia ri de felicidade por saber que seu samba está sendo comentado, filmado e dançado pelo Brasil a fora.
Severino Carqueijo, Bia Dandô, Mariquinha,(Segunda geração do coco, filhos dos fundadores) e seu Gerson comentam com entusiasmo os momentos que tiveram apoio da prefeitura, no período de 1970 a 1976, na administração de Jaime de Melo Galvão: "Viajamos por quase todas as cidades vizinhas (Arcoverde, Pesqueira, Itaìba, Buique e Águas Belas). A convite, apresentamo-nos em Recife para uma plateia, inclusive grandes nomes da politica do nosso estado como o governador Miguel Arrás, bem assim, como o samba de coco de Arcoverde, e grupos de outras cidades, cujos os aplausos vitoriosos foram para o nosso samba de coco, fazendo estremecer o palco até parecer que tudo desabaria".
O grupo de Samba de Coco de nossa cidade, requer maior valorização, pois é um patrimônio cultural do município e da região. Recursos e Politicas culturais não faltaram nos últimos anos. .
Outros movimentos semelhantes foram contemplados em todo o estado. A nossa sociedade, hoje, tem consciência que a cultura, a educação e história são requisitos essenciais, não somente á cidadania, mas à vida. Esperamos que isto se reflita na política.
A educação que ensina, a cultura que forma e a historia que registra engrandecem o homem.


O SAMBA DE COCO E SUAS REPERCUSSÕES CULTURAIS EM TUPANATINGA

Trabalho de conclusão de curso, apresentado pelos alunos Clebio de Lima Paes e Márcio de Melo Cavalcanti do 8º período do Curso de Licenciatura Plena em História da Aesa/Cesa em cumprimento do estágio Curricular Supervisionado II sob a Disciplina Prática de História, ministrada pela Professora Maria do Carmo Amaral Pereira.




Os autores investigaram sobre um tema cujas repercussões hodiernas fazem se sentir com intensa representação sócia – cultural, sobretudo ser se tem em vista as novas perspectivas abertas pela cultura ou manifestações culturais locais ou regionais.
Essas produções culturais dão consistências a comunidades que por serem pequenas iriam certamente diluir sem na grande história ou quando muito servir como notas de rodapé.
O coco enquanto expressão cultural, transcontinental ganhou na região, que servil como campo de pesquisa elementos que possibilitaram uma unidade sócia – cultural forjando assim uma identidade que sem ser monolítica garante uma aproximação de valores ao mesmo tempo em que produz relações sócias – culturais extremamente produtivas cujo alcance resgata valores e sodilificam representações culturais e econômicas viáveis e regenerativas.

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JUSTIFICATIVA


A escolha deste tema, O SAMBA DE COCO E SUAS REPERCUSSÕES CULTURAIS EM TUPANATINGA, justificam-se pela necessidade de registrar a história local de uma comunidade, que faz parte do processo histórico do município de Tupanatinga.
A força da transmissão da cultura do Samba de coco está viva em uma comunidade humilde, que vive na periferia da cidade, em bairros pobres e nas favelas, e muitas vezes excluídas da sociedade, mas esta camada da sociedade, não perdeu, apesar das adversidades, a sua alegria e força de viver, transformando esta em uma cultura própria, que reflete suas condições de vida e um modo crítico de encarar a realidade, expressando-se, por exemplo, na música e na dança.
O estudo da historia local é fundamental na formação de uma identidade cultural, “a história local pode ter um papel decisivo na construção de memórias (...). É mais fácil a identificação, que ajuda a construir uma identidade, num espaço ou em grupos mais limitados, do que em situações espaciais ou sociais mais latas que adquirem um caráter cada vez mais abstrato”, este trabalho de conclusão de curso, mostra uma parte da cultura local, pois, sua importância, se revela na transmissão do conhecimento cultural tão presente, e ao mesmo tempo tão distante.
A principal fonte deste trabalho é a historia oral, tendo sempre em foco, a procura de novos conhecimentos, evitando segundo Samuel ”tendência administrativa dos documentos”, registrando não os atos dos governantes, mas sim, uma expressão cultural, no cotidiano de uma comunidade excluída.
O registro destes relatos tem como ponto fundamental, segundo Samuel “o relato vivo do passado deve ser tratado com respeito, mas também com crítica; como o morto”, .

Tupanatinga e o coco

As danças como socialização: As danças têm um caráter importante na vida dos negros, como em geral de todos os povos de civilização atrasada. É através da dança que tribos ou grupos de indivíduos se juntam em espíritos de coletividade e solidariedade para um objetivo, isto é, o sacrifício de sua individualidade para a comunhão de uma idéia. É através da dança que podem expressar seus sentimentos de solidariedade em reuniões sociais.
O caráter religioso na dança: Os negros na roda de coco, bem como em outras danças afro-brasileiras mostram a sua religiosidade na música, onde são encontrados em sua letra elementos de caráter religioso, podendo perceber a forte influência da igreja católica em sua cultura.
O coco chegou ao povoado de santa clara: O coco é filho da cultura negra. Para Gilberto Freyre o coco surgiu nos terreiros da casa grande “Danças européias na casa grande. Samba africano no terreiro”, em quanto na casa grande comemorava-se as festas de casamento, batismo etc., os negros e mestiços sambavam no terreiro compartilhando da alegria da casa grande.
O coco nasceu em Alagoas, no quilombo dos palmares, fazendo parte do nosso patrimônio histórico colonial. Depois se estendeu por todo o nordeste. No inicio do séc. XX, no povoado de Santa Clara, o coco foi introduzido pela família dos Ocrízio, sendo seu “chefe”, o Senhor Júlio de Ocrízio, grande poeta do coco. Neste período eles dançavam como forma de sociabilidade e confraternização, segundo dona Mariquinha ”juntava todo mundo e ia sambar para apilar o chão da casa”. O coco é uma dança envolvente e contagiante pelos passos firmes e versos, onde seus participantes começavam a dançar no início da noite até o amanhecer, sem perde o passo, pois o coqueiro não deixava a turma esmorecer.

O coco é uma parte da historia local, seus participantes sempre dançavam em festas dentro de sua comunidade, para comemorar um casamento, graças alcançadas etc. Mais excluídos da sociedade, sem reconhecimento de sua cultura. Embora o coco tivesse na década de 70, durante o governo Jaime de Melo Galvão, o início do seu reconhecimento, quando estes fizeram várias apresentações em cidades circunvizinhas e principalmente no Recife, onde fizeram um verdadeiro show de dança típica emocionando todos aqueles que tiveram a honra de estar presente. O coco depois deste período de brilho foi sendo esquecido, lembrado apenas de forma nostálgica, por seus participantes que temem que sua cultura venha a desaparecer, uma vez que muitos dos que participavam já faleceram levando consigo boa parte de sua cultura, pois esta é uma cultura oral.
Nas cidades em que o coco se apresentou, houve o encontro com outros tipos de culturas ou danças, mas foi em Arcoverde que houve um maior intercâmbio cultural, principalmente através do senhor Ivo do Coco, que chegou a participar de varias rodas de coco em Tupanatinga, tentando inclusive organizar o coco no município, mas suas intenções foram frustradas com a falta de interesse dos lideres da região.
A pesar do pouco interesse do governo municipal em resgatar este tipo de cultura, contrataram uma participante do samba de coco em Tupanatinga, a “dona Mariquinha”, grande bailarina do samba de coco, para ensinar as crianças nas escolas municipais, apesar do trabalho árduo ela tem a esperança de ver preservada sua cultura.
Em uma sociedade elitista o coco enfrenta uma barreira invisível, “o preconceito”, tanto econômico quanto racial, pois seus principais representantes são humildes, que tiram o seu sustento da lavoura e moram na periferia em habitações muitas vezes precárias. Uma vez que o coco é uma dança tipicamente negra e dançada por negros, a sua preservação depende em parte desta superação.
Os participantes do coco em Tupanatinga encontram-se cansados por sua idade avançada, doenças, além de condições de vida insalubres, mas apesar de tantas adversidades que enfrentaram na vida não perderam o sorriso, a dignidade e a esperança de ver sua cultura reconhecida e transmitida aos jovens.

Conclusão

Este trabalho é um registro da cultura locar de um povo excluído, que contribuiu na formação de uma cidade, através de sua força e cultura, tornaram-se parte intrínseca de Tupanatinga, embora esta participação seja negada no processo histórico da região.
Durante a realização deste trabalho, houve um processo de auto-conhecimento, pois entramos em contato com a história de Tupanatinga, onde possibilitou o conhecimento de uma cultura singular da história local. História de pessoas simples como, Dona Mariquinha, Seu Gerson, Severino Carquejo (coqueiro) etc. que se destacaram através de sua cultura.
Esta pesquisa mostrou a necessidade de um trabalho mais detalhado e profundo, onde sejam preenchidas suas lacunas, para que este grupo tenha o devido registro de sua cultura.
Através deste TCC, esperamos que a sociedade tupanatinguense bem como o Poder Público, desperte para a preservação da cultura local. Enquanto ainda existe!





Tupanatinga e o samba de coco

O coco como muitas outras danças têm um papel importante na vida de povos de civilizações atrasadas, pois é através da dança que grupos de indivíduos se juntam em confraternização, deixando de lado suas diferenças em troca de um objetivo “dançar”. O coco é uma cultura transcontinental de origem negra, que nasceu em Alagoas expandindo-se por todo o nordeste. Originalmente se dá em uma roda de dançadores e tocadores, sendo que sua forma musical é cantada, com acompanhamento de um ganzá ou pandeiro e da batida dos pés. A música começa com o tirador de coco (ou coqueiro), que puxa os versos, respondidos em seguida pelo coro. O coco foi introduzido em Tupanatinga no início do séc. XX, através da família dos Ocrízio, sendo seu “chefe”, o Senhor Júlio de Ocrízio, desenvolvendo-se sócio-culturalmente tornado-se parte da história popular da região, embora tenha tido um período de apogeu na década de 70, entrou em declínio em seguida. Seus participantes fazem parte de uma camada excluída da sociedade, muitos vivendo em condições insalubres, apesar das adversidades esperam ver preservada a sua cultura.


Clebio de Lima Paes
Márcio de Melo Cavalcanti
Graduandos de História do CESA-AESA
















4 comentários:

Assoc. de Cultura e Jovens de Tupanatinga-PE disse...

Os artigos "samba de coco e o carnaval em Tupanatinga" são extraordinários por registrar a cultura de nossa cidade: "criar é preciso; viver não é preciso". Uma das formas de criar é literalizar a história e a cultura.
Viva!

Autor Comentário: Edezilton Martins

Odilon Neto disse...

Realmente são dois documentários sobre a historia de nossa cidade. Esses texto devem ganhar o mundo e ser divulgado mais e mais entre as pessoas do nosso município e cidades vizinha para tirar essa mancha violenta que tantos tem.
Assim poderemos resgatar nossa historia!

Setor Juventude - Diocese de Pesqueira disse...

Parabés a quem escreveu!

É da raiz de nossa terra,
hoje pouco se ver,
triste a isso emperra,
juventude há de rever!

Anônimo disse...

Amigo esta bem organizado seu post e artigo, mas gostaria de te informar que no SERGIPE existe um samba chamado hoje se Samba de seu DIô. os primeiros registros desse samba com seu primeiro puxador "pai de DIô" são datados de 1890, com tudo foi o registro de samba mais antigo que encontrei acreditando assim que foi la no SERGIPE onde realmente o samba de coco teve suas horigens, grato! esclarecimentos disponibilizo meu e-mail denissantan@yahoo.com.br.